O dia 16 de Janeiro é comemorado o dia do cortador de cana de açúcar, com objetivo de visibilizar um dos trabalhadores mais precarizados desde a história do Brasil colonial. Ainda que hoje em dia existam maquinários para extração, em muitos lugares ainda é necessário o corte manual. A estimativa é que no Brasil exista cerca de 300 mil trabalhadores com o corte de cana de açúcar.
Considerada a primeira atividade econômica a ser trazida para o Brasil pela Coroa Portuguesa, a história se confunde com a história do país, onde há de um lado o grande latifundiário com poder político e econômico e de outro uma massa de trabalhadores que movem as engrenagens de uma grande usina. Como escrito por João Cabral de Melo Neto (1920-2020) no poema “O Rio”(1953): “Tudo planta de cana, para uma só boca de usina”.
O Mar e o Canavial
-João Cabral de Melo Neto
O que o mar sim aprende do canavial:
a elocução horizontal de seu verso;
a geórgica de cordel, ininterrupta,
narrada em voz e silêncio paralelos.
O que o mar não aprende do canavial:
a veemência passional da preamar;
a mão-de-pilão das ondas na areia,
moída e miúda, pilada do que pilar.
O que o canavial sim aprende do mar;
o avançar em linha rasteira da onda;
o espraiar-se minucioso, de líquido,
alagando cova a cova onde se alonga.
O que o canavial não aprende do mar:
o desmedido do derramar-se da cana;
o comedimento do latifúndio do mar,
que menos lastradamente se derrama.
Referências:
- Brasil de Fato, Lucas Bezerra – Dia do cortador de cana ou o trabalho avesso à vida nos canaviais brasileiros
- João Cabral de Melo Neto – O Rio (Completo e-disciplinas USP)
- João Cabral de Melo Neto – O Mar e o Canavial
