Logos

Considerado o primeiro filósofo ocidental, o “protofilósofo” Tales de Mileto também foi fundador da ciência, matemática e astronomia ocidental, trazendo muitos dos conhecimentos adquiridos nas suas viagens para o Egito e Babilônia para sua escola em Mileto.
Com seus conhecimentos em astronomia e geometria, Tales de Mileto tinha descrito a posição da constelação Ursa Menor, além de prever um eclipse solar em maio de 585, durante a batalha de Halis.
Em Teeteto, Platão descreve o que acontecera a Tales que, tendo sua atenção voltada aos céus, esquecera o que se passava debaixo de seus pés:

“Foi o caso de Tales, quando observava os astros; porque olhava para o céu, caiu num poço. Contam que uma decidida e espirituosa rapariga da Trácia zombou dele, com dizer-lhe que ele procurava conhecer o que passava no céu, mas não via o que estava junto dos próprios pés. Essa pilheria se aplica a todos os que vivem para a filosofia”

Reflexões

É preciso se questionar: o que nos atrai num pensamento? Qual a estrela da aurora nos atrai como uma mariposa que inocentemente voa ruma a uma lâmpada para ser queimada, assim como Ícaro que voa perto demais do Sol e perde suas asas de cera? Quantas vezes acreditamos seguir por uma caminho da verdade que, ofuscados, mal vemos o chão a nossa frente?
Ironicamente, a própria “piada de Platão” sobre Tales de Mileto não se aplique ao próprio Platão? (afinal “essa pilheira se aplica a todos que vivem para a filosofia”), Aquele que estava tão fissurado pelo “mundo das ideias” e descrevia a libertação através do mito da caverna que desprezava uma visão de mundo materialista como a de Demócrito, e se referia ao seu cínico opositor Diógenes como um “Sócrates enlouquecido”? Ou poderia Diógenes ser o mais são dos filósofos?

Enfim, seria necessário desenvolvermos uma autocrítica de nossos pensamentos e para não cairmos em vícios? Um caminho da virtude é trilhado com os pés no chão ou uma escadaria invisível que nos leva aos céus? E se um dia inevitavelmente cairemos num poço, ergueremos a cabeça assumindo a queda, ou olharemos para a luz acima acreditando ser um “novo Sol”?

Ora, no fim, mesmo alguém com a cabeça inclinada para o céu como Tales foi capaz de deduzir o comportamento dos astros, dezenas de séculos antes de alguém sequer pensar no termo “astronomia”. Talvez se estivesse atentado demais ao poço em sua frente, jamais desvendaria os céus.

 

Para quem quiser saber mais, deixo nas referências uma matéria e um artigo sobre Tales de Mileto em seu fatídico episódio do poço narrado por Platão

Referências:

  • SoCientifica — Tales de Mileto: o astrólogo que caiu num poço
  • Bárbara Botter — O intelectual que nasceu de uma piada: o filósofo