Logos

“O preço a pagar pela tua não participação na política é seres governado por quem é inferior.” – Platão. Embora esta frase apareça desta forma na internet, ela é adaptada em conceitos do livro a República, onde Platão narra um diálogo entre Sócrates, Trasímaco e Glauco:

 

Sócrates — Então, Trasímaco, é evidente que nenhuma arte e nenhum comando provê ao seu próprio benefício, mas, como dizíamos há instantes, assegura e objetiva o do governado, objetivando o interesse do mais fraco, e não o do mais forte. Eis por que, meu caro Trasímaco, que eu dizia há pouco que ninguém concorda de bom grado em governar e curar os males dos outros, mas exige salário, porque aquele que quer exercer convenientemente a sua arte não faz e não objetiva, na medida em que objetiva segundo essa arte, senão o bem do governado; por estas razões, é necessário pagar um salário aos que concordam em governar, seja em dinheiro, honra ou castigo, se porventura se recusarem. 

 

Glauco — Que queres dizer com isso, Sócrates? Eu conheço os dois outros tipos de salários, mas ignoro o que entendes por castigo dado na forma de salário. 

 

Sócrates — Então não conheces o salário dos melhores, aquilo pelo qual os mais virtuosos governam, quando se resignam a fazê-lo. Não sabes que o amor à honra e ao dinheiro é considerado coisa vergonhosa e, efetivamente, o é? 

 

Glauco — Sei.

 

Sócrates — Devido a isso, os homens de bem não querem governar nem pelas riquezas nem pela honra; porque não querem ser considerados mercenários, exigindo abertamente o salário correspondente à sua função, nem ladrões, tirando dessa função lucros secretos; também não trabalham pela honra, porque não são ambiciosos. Portanto, é preciso que haja obrigação e castigo para que aceitem governar — é por isso que tomar o poder de livre vontade, sem que a necessidade a isso obrigue, pode ser considerado vergonha — e o maior castigo consiste em ser governado por alguém ainda pior do que nós, quando não queremos ser nós a governar; é com este receio que me parecem agir, quando governam, as pessoas honradas, e então assumem o poder não como um bem a ser usufruído, mas como uma tarefa necessária, que não podem confiar a outras melhores que elas nem a iguais. Se surgisse uma cidade de homens bons, é provável que nela se lutasse para fugir do poder, como agora se luta para obtê-lo, e tornar-se-ia evidente que, na verdade, o governante autêntico não deve visar ao seu próprio interesse, mas ao do governado; de modo que todo homem sensato preferiria ser obrigado por outro do que preocupar-se em obrigar outros. Portanto, de forma alguma concordo com Trasímaco, quando afirma que a justiça Significa o interesse do mais forte. 

A candidatura de Fibonatt?

Visto que o diálogo narrado por Platão dispensa comentários, hoje falaremos dessa figura ilustre e excêntrica de Fibonatt, que dispensa qualquer explicação: pouco do que se sabe sobre ele é expresso na forma espiralada de seus cabelos.


O desinteresse inicial de Fibonatt pela política é por ir de encontro de suas paixões: do que me serve tal relação entre os homens se a natureza já me satisfaz? Esse padrão numérico presente na mais ínfima organização de átomos, até a exuberância das plantas, e se estende para a imensidão das galáxias. O ser no mundo é então, nada mais que um reflexo de tal ordem natural, qual o ser jamais compreenderá em sua totalidade. Por que me preocuparia eu em “ser governado” por um homem que crê que governa?


Mesmo assim, Fibonatt é afetado pela provocação de Phi: então você estaria de acordo se tal homem que crê estar acima da natureza toma o poder subjetivo por pura ganância? E de fato, uma provocação eficaz, não há nada que Fibonatt julgaria mais inferior ao ser no mundo do que o homem que almeja a superioridade sobre ela, o homem que não se compreende como parte dela, e arduamente luta para subjugar o próximo. O homem que faz política não por vocação: mas pelo poder, pela carreira, pelo salário.


Fibonatt se vê pressionado ele mesmo a pegar o trono galático, não pela busca ao poder, mas para impedir que os inferiores o tomem. Ora, uma vez lá, ele nada precisa fazer: ele não precisa dar uma ordem para a galáxia girar como gira, a maçã a cair da árvore como cai, para o repolho crescer como cresce ou para o redemoinho se espiralar como se espiralaria. Sua vocação é o nada, seu pagamento é contemplar o universo em estado de graça, o seu poder é saber que o poder e a ganância dos homens são limitados, e ele está além dessa fronteira, vendo a humanidade se espremer em uma membrana semiótica, da qual jamais sairão, se não por uma via de aceitação a equalidade natural, ao invés de um ciclo vazio e claustrofóbico de busca de significado.

Referências:

  • A República — Platão