Logos

Esse post faz parte da categoria de “ilustrações”, onde eu brevemente comento sobre alguns aspectos que utilizei para fazer o desenho. Sendo um produto do já citado #mimitober, é o tema do dia 9, justiça. Mas afinal, o que é justiça? Há uma discussão onde se traça uma diferença entre justiça e leis, de forma que há uma diferenciação no campo filosófico do que se entende entre moral e ética.

De forma bem simplificada, pode-se dizer que a moral é baseada nos costumes e valores de uma determinada sociedade, e as leis seriam, em teoria, uma forma de institucionalizar a moral como uma regra social, algo a ser seguido e não transgredido (sujeito a punição o seu descumprimento com algo dito equivalente ao delito, segundo a moral). Já no campo da ética, se relaciona com valores do indivíduo e a forma como ele interage no mundo e afeta o outro. Em outros termos, a ética acaba sendo relacionada com o direito do outro, “de que forma posso me politizar para ser justo com o próximo?”. E assim entramos no termo mais complicado: a Justiça.

Se cada indivíduo tem sua ética individual, de que forma isso se relaciona com a moral e as leis, que são valores mais unificados para uma sociedade? Pode-se dizer que nem toda moral é boa, nem toda lei é justa, e assim a ética, inerente ao indivíduo, entra no seu papel: pode-se mudar a moral e as leis de uma sociedade, e a ética contribui com essa mudança para que exista justiça (ainda que não seja uma relação perfeita). Muitos sujeitos que possuíam um forte senso de ética foram subjugados pelas leis e a moral de uma sociedade, como o próprio Sócrates, condenado a morte por “corromper a juventude” ao introduzir “falsos deuses”. Foi assim morto seguindo as leis e a moral da época, embora com nosso senso ético pode-se dizer que foi uma morte injusta.

Como complemento sobre “lei e justiça”, uma série que traz à tona a reflexão é Better Call Saul, na qual deixei o vídeo do canal Mimimídias sobre o tema discutido dentro do universo da série.

Os Três Personagens do Filósofo Psicodélico

Os personagens do Universo Psicodélico foram gradualmente apresentados conforme as tirinhas eram feitas (inicialmente postadas no Facebook). Em posts como esse onde apresento uma arte, acho que seria legal falar um pouco mais deles (assim como falei de Keruvin na postagem sobre o “anjo repolho”).

Começando pelo personagem principal, o Filósofo Psicodélico (também conhecido como ‘Phi‘) foi o primeiro a ser inventado e é a representação da filosofia em forma bruta, sendo representado pelo símbolo Φ (phi maiúsculo). Sua trança possui as sete cores do arco íris, representando sua jornada por uma filosofia ampla, que contemple o pensamento em todas as suas cores, uma “filosofia psicodélica”. Em sua balança, tenta equilibrar as forças do Caos e da Ordem, representados por Ψ (psi maiúsculo) e Δ (delta maiúsculo) respectivamente, representando as forças dos dois deuses primordiais: Ka-Oh, o Deus do Caos, e Ha-On, o Deus da Ordem.

Em sequência, vem a sua derivação Fibonatt, um personagem caracterizado pelo seu cabelo em forma de espiral (que segue a sequência de Fibonacci, ou a o proporção áurea). Seu símbolo é  φ (phi minúsculo) que representa matematicamente a dízima periódica correspondente a proporção áurea (1,61803…). Fibonatt tem uma visão mais naturalista e cartesiana se comparado ao Filósofo Psicodélico (Fibonatt na arte está inclinando a espada em sua direção, se opondo a sua autoridade). Sua visão procura entender um padrão universal, uma fórmula que resume toda a vida, e vê a beleza da natureza quando o padrão de Fibonacci se repete em todos os níveis da criação e da arte (embora o Filósofo Psicodélico o considere muitas vezes paranoide e que meramente procure compulsivamente padrões na subjetividade da criação).

Por último, cria-se Luci, criada muito depois na linha do tempo do Universo Psicodélico, mas ironicamente sua letra corresponde ao início: a letra alfa (tanto minúscula quanto maiúscula) além de plasticamente assumir a forma de lambda (Λ, representando muitos elementos da física, desde o comprimento de onda a meia vida de um elemento). Sua postura é racional e analítica, ela é o quarto elemento criado para balancear os outros três (psi, phi e delta). Seu conhecimento é uma torre que nasce das profundezas em direção a lua: sua espada é navalha filosófica que dá um fim (podendo aqui também ser o Omega) quando o debate entre Fibonatt e Phi está andando em ciclos improdutivos de raciocínio. Sozinha, Luci pode sucumbir ao hiper-racionalismo, a torre desaba nas profundezes e leva a lua junto ao abismo, devorado pelo monstro interno, que não se abre a pensamentos “não científicos” e se fecha a plasticidade do mundo, se opondo ao Delta.

Arcano "La Justice"

La Justice; Tarot de Marselha por Jodorowsky e Camoin

Arcano VIII - La Justice

Como alguém familiarizado com tarot tenha notado, essa arte foi diretamente inspirada pela carta da Justiça, em seus múltiplos elementos.

Representada pelo número 8, é símbolo da perfeição: ou também dois números 4, o que seria uma sobreposição de dois quadrados: o plano material e espiritual.

Muito pode-se interepretar em seus símbolos, logo de cara elementos presentes nas representações da deusa Thêmis, que popularizada pelas estátuas que representam a justiça: a balança que representa o equilíbrio e a espada que representa a execução da justiça, como símbolo de força.

A diferença da representação de Thêmis e o arcano maior está no olho: enquanto a Deusa está vendada para ilustrar a ideia de “justiça cega”, aqui a Justiça tem os dois olhos bem abertos, a ainda um círculo no topo de sua cabeça que pode representar um terceiro olho, como entidade que pode ver tudo e julgar sempre de forma justa a situação (como uma máxima metafísica da justiça que, como apontada anteriormente, não é absoluta).

Um detalhe a ser questionado na carta pode ser sua balança: o equilíbrio é mantido de forma astuta por seu cotovelo e seu joelho, o que pode ser interpretado ou como “quebra de sua perfeição”, a corrupção, ou também como uma mensagem de que não somos perfeitos e não há necessidade de uma cobrança excessiva sob nossas ações.